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Jazz na Caixa

Associação Teatro Construção de Joane/
O Eixo do Jazz - Associação Luso-Galaica para a Promoção do Jazz

 

 

 

2018

Nascido em 2017 como uma edição zero, o Jazz na Caixa resulta da necessidade de impulsionar a actividade cultural em Famalicão, tendo como mentores o Teatro Construção de Joane e O Eixo do Jazz - Associação Luso-Galaica para a Promoção do Jazz.

Dos concertos realizados na caixa do palco do Teatro Construção, o espaço ofereceria o nome e o conceito ao festival, tornando natural a sua vocação intimista, que contou em 2018 com sete concertos para um público privilegiado, residências artísticas e conversas com o público. A natureza luso-galaica da associação marca a programação: André Fernandes «Centauri», Mano a Mano, Atlantic Percussion Group & Eduardo Cardinho «Two Worlds, One Way», Michael Lauren All Stars Trio e Pedro Jerónimo Quinteto na representação lusa e Javier Marcos Trio e Mónica de nut e Luis Martíns «Raíces Aéreas» pela Galiza.

Assisti apenas aos concertos da primeira semana.

André Fernandes «Centauri»
O festival (os concertos) começou com o «Centauri» de André Fernandes, um projecto onde o guitarrista recupera algo do espírito do rock progressivo. Electicidade e pulsão rock com dois saxofones endemoninhados e uma secção rítmica arrebatada. E apesar da energia que faz parte mesma do projecto «Centauri» (que conhecemos do disco), curiosamente Fernandes esteve bastante contido, e mesmo melódico, o que comunicou à banda, denotando a maleabilidade do projecto (e a sua substância de work in progress), que claramente adaptou ao espaço.
Nenhuma novidade: Fernandes é um compositor e guitarrista criativo e a sua banda é composta de cinco músicos de excepção: voluptuoso Mortágua, assertivo José Pedro Coelho, rigoroso Brito, vulcânico Pereira, engenhoso Fernandes. (E tudo se passa com a naturalidade e o prazer de uma banda que parece sempre ter tocado esta música.) 
Excelente, este arranque do Jazz na Caixa.

Mano a Mano
O segundo concerto pareceu ter sido expressamente concebido para a caixa do teatro. Dois guitarristas (os Mano a Mano – os irmãos Bruno e André Santos), com uma encenação que nos convidava a sentar na sua sala. Dois guitarristas que incluíram o teatro de Joane na sua tournée, com um projecto feliz.
Foi talvez a sua actuação mais descontraída que lhes assisti, mas também a menos ambiciosa. Um início manouche a que se seguiu um blues de Benny Goodman e uma homenagem a Tom Jobim, um arranjo de André Santos para a Bolinha de Papel, uma diversão sobre o tema do jogo Super Mario que deu o nome ao tema, um standard: Without a Song e o tema do grupo Mano a Mano.  Entre o Jazz e o sambinha, a braguinha do André na evocação da música da Madeira e o regresso a Tom Jobim no encore com Você e Eu.
O projecto Mano a Mano é declaradamente informal e despretensioso, mas eu creio que ele ganharia com algum investimento nos arranjos e um alargamento do universo temático. Muito em especial nos temas de origem brasileira sente-se que os dois irmãos claramente têm um respeito por Tom Jobim e pela música desse período; mas essa, diria, veneração, proíbe-os de lhes «tocar». Mas não é preciso ser músico de Jazz para tocar Tom Jobim, e eles estão a concorrer com os milhões de excelentes músicos brasileiros que nasceram a ouvir essa música. Mesmo nesses temas, nessa música fantástica, eu diria, é necessário tratamento e improvisação. Será talvez a maior debilidade do projecto.
Enfim, apesar da minha observação, e porque estamos a falar de dois excelentes guitarristas, foi um belo concerto e, como disse, apropriado para o espaço.

Atlantic Percussion Group & Eduardo Cardinho «Two Worlds, One Way»
O último dos concertos da primeira semana juntou músicos de diferentes origens: clássica e Jazz. Água e azeite, a fusão anti-natura tem levado a inúmeras experiências mais ou menos felizes, e as dificuldades estiveram patentes na Caixa: não que o colectivo não funcionasse, mas com frequência estivemos perante dois grupos diferentes, com os percussionistas submetidos a uma música pré-concebida e um grupo de Jazz.
É verdade que a música que apresentaram era fruto de uma das residências artísticas da Caixa, e está ainda na sua fase embrionária, e eu diria que tem pernas para andar. Interessante e com um enorme potencial é a parafernália percussiva que os jovens da música clássica dominam, e que demonstraram ser possível associar ao vibrafone de Cardinho sem se tornarem um simples complemento da bateria, mas excessivamente naïve é a electrónica, que requer atenção, ou a eliminar simplesmente, mesmo que ela receba os aplausos do público. Mais apropriados, eu diria, seriam paus de chuva ou efeitos de água (olá Hermeto, já inventaste tudo?), enfim, percussões. 
Muito interessante e com potencial esta associação, porque quanto ao grupo de Eduardo Cardinho… nada a observar: nervo, personalidade, Jazz.

Saldo positivo para uma primeira semana do Jazz na Caixa 2018, e a um conceito que não procura o grande público, associando, ao intimismo que o espaço sugere, experimentalismo e criatividade. Porque o tempo, a oportunidade e os meios são factores insubstituíveis da experiência, quando se pretende que a experiência tenha um objectivo. São factores insubstituíveis do processo criativo.
O Jazz na Caixa pode contribuir para esse processo.


JazzLogical esteve no Jazz na Caixa a convite do festival

 

Sex 15 Vila Nova de Famalicão - Joane
ATC
22.30
André Fernandes
«Centauri»
André Fernandes (g), José Pedro Coelho (st, ss), João Mortágua (sa, ss), Francisco Brito (ctb), João Pereira (bat)
Sáb 16 Vila Nova de Famalicão
ATC
18.00
Mano a Mano
André Santos (g), Bruno Santos (g)
Dom 17 Vila Nova de Famalicão
ATC
18.00
Atlantic Percussion Group & Eduardo Cardinho «Two Worlds, One Way»
José Afonso Sousa (per), Tomás Rosa (per), Eduardo Cardinho (vib), Alex Rodriguez Lazaro (bat), Filipe Louro (ctb)
Sex 22 Vila Nova de Famalicão
ATC
22.30
Javier Marcos Trio
Javier Marcus (voz), Felipe Villar (g), Jose Manuel Díaz (b)
Sáb 23 Vila Nova de Famalicão
ATC
18.00
Mónica de nut e Luis Martíns
«Raíces Aéreas»
Monica de nut (voz), Luís Martíns (harpas celtas acústica e elétrica)
Sex 29 Vila Nova de Famalicão
ATC
22.30
Michael Lauren All Stars Trio
Michael Lauren (bat), Carlos Azevedo (p), António Aguiar (ctb)
Sáb 30 Vila Nova de Famalicão
Cru: Espaço Cultural
18.00
Pedro Jerónimo Quinteto
João Cardita (bat), Pedro Molina (ctb), Ricardo Moreira (p), Diego Álvarez (st), Pedro Jerónimo (t)